As Leituras do Pedro - Mônica e Cebola, o casamento nos quadrinhos
Mais uma vez a Quadrinhosfera tráz a seus leitores um artigo de autoria do crítico de quadrinhos português Pedro Cleto, que desta vez fala sobre o casamento de Mônica e Cebola e apartir disso conta um pouco da história dos casamentos nos quadrinhos.
Boa leitura!
A notícia chegou há
dias: Mônica e Cebolinha (aliás Cebola) vão dar o nó, depois de décadas de
planos infalíveis e dolorosas coelhadas.
O feliz acontecimento
terá lugar no nº 50 da revista Turma da Mônica Jovem, à venda em breve no
Brasil (e seis meses depois em Portugal), mas dele apenas se conhece o “Convite
de Casamento” da Mônica e do Cebola “para o dia mais feliz” das suas vidas e, até
agora, ambos eram apenas adolescentes.
A exploração de uma
realidade paralela, uma viagem ao futuro ou a emulação de um casal de heróis de
outra série, poderão ser algumas das possibilidades exploradas pela história.
E se esta união já
esteve próxima várias vezes, nas adaptações de clássicos da literatura e do
cinema protagonizados pela Turma da Mônica, desta vez, possivelmente, também
não passará do convite, sendo apenas um truque de marketing com o propósito de
elevar as vendas da revista mais procurada das edições Maurício de Sousa, que
narra as aventuras das versões adolescentes de Mônica, Cebolinha, Cascão ou
Magali. O mesmo já aconteceu na edição nº34, quando, perante o declínio das
vendas, os dois começaram a namorar, tendo a tiragem global desse número
ultrapassado o meio milhão de exemplares.
O mesmo objectivo –
melhorar as vendas – esteve na base de decisões de sinal contrário tomadas
recentemente pela Marvel e a DC Comics. Esta última, na sequência do “reinício”
da cronologia do seu universo, feito há cerca de um ano, para eliminar muitas
das discrepâncias existentes e ajustá-lo à cronologia cinematográfica – pois os
direitos para o cinema são, actualmente, a principal fonte de receitas das
editoras de super-heróis - acaba de anunciar que o Super-Homem, que após 15
anos deixou de estar casado com Lois Lane, vai iniciar uma relação com a Mulher
Maravilha (Wonder Woman). Ao longo dos anos, os dois super-heróis - que segundo
muitos pareciam destinados um ao outro - tiveram breves relações mais do que
uma vez e em realidades alternativas chegaram mesmo a gerar filhos, mas os seus
caminhos acabaram sempre por se separar.
Na Marvel, o primeiro
grande abalo sentimental ocorreu em 2008 e foi a separação de Peter
Parker/Homem-Aranha e Mary Jane, cuja relação deixou de existir num passe de
magia – que “apagou” mais de duas décadas de histórias - como resultado de um
acordo com Mefisto, para salvar a vida da tia May, ferida num tiroteio.
O objectivo da Marvel
era permitir uma maior identificação do seu público-alvo (adolescentes/jovens)
com o super-herói aracnídeo.
O invulgar
acontecimento, que levantou grande celeuma entre os fãs, teria uma explicação
dois anos mais tarde, na história “Um momento no tempo”, agora disponível
nos quiosques portugueses , na revista “Homem-Aranha” #121.
Nela, o relato actual
é entrecortado com páginas da história de 1987 que narrava o casamento dos
dois, para explicar (aos leitores mais antigos e descontentes) porque razão ele
nunca chegou a existir… Pelo menos, até que interesses comerciais mais fortes
obriguem a nova remodelação cronológica!
Ainda na Marvel,
recentemente, Pantera Negra e Tempestade, cujo casamento tinha sido celebrado
há 6 anos, também romperam, o que indicia um eventual regresso da super-heroína
aos X-Men e um papel de maior preponderância em mais uma reformulação - Marvel
Now! - anunciada para Outubro.
Se é verdade que todas
estas mudanças têm em primeiro lugar motivações financeiras, não deixam também
de ser um reflexo das metamorfoses experimentadas pela sociedade actual, o que
explica, por exemplo, o primeiro casamento gay dos quadradinhos de
super-heróis, entre o X-Men Estrela Polar e Kyle, que teve lugar há poucos
meses.
Longe vai o tempo das
relações estáveis e duradouras nos quadradinhos, como as personificadas pelo
Príncipe Valente ou Thorgal, que casaram, constituíram família e – apesar de
todas as aventuras, provações e peripécias – envelheceram juntos.
Há muitos outros, como
o Fantasma, Mandrake e Martin Mystère ou mesmo o Super-Homem e o Homem-Aranha,
tiveram noivas (que pareciam eternas) ao longo de décadas, até à “febre
casamenteira” que, qual epidemia, afectou os quadradinhos a partir da década de
1970, levando ao altar bom número de heróis de papel até aí solteirões.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 17 de Setembro de 2012)
*Artigo da autoria de Pedro Cleto, renomado crítico de quadrinhos publicado em seu blog: http://asleiturasdopedro.blogspot.com.br/
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